terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pode o dinheiro revelar o relacionamento com Deus?


Um relacionamento com quem dizem ser Deus ...
Um relacionamento com o Pai.

O dinheiro tem sido importante, especialmente aos evangélicos pentecostais e principalmente neopentecostais, como medida da benção de Deus.

Uma vez que prosperam, e dessa forma sentem-se amados por Deus, a si mesmo dizem:
- O Senhor tem sido comigo, por isso tenho prosperado!

Mas a saúde financeira da família pode passar por uma fase ruim, seja por uma intempérie climática ou crise, seja até por descuido devido a (pela) dedicação insana no trabalho voluntário da igreja, participando de todos os cultos e capitaneando muitas atividades, assumindo responsabilidades e ministérios.

Não é incomum assistir a fiéis evangélicos que negligenciaram suas tarefas comerciais, e até, por que não dizer, sua vida secular em detrimento de sua vida para a igreja.

Alguns deles entronizam as falas de que ao “se envolverem no trabalho do Senhor”, que quer dizer trabalhar para a denominação religiosa na qual congregam, Ele, O Senhor, prosperará seus caminhos e tudo lhes irá bem. Inclusive utilizam Mt. 6:33 “Mas buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua justiça, e TODAS as outras coisas será acrescentadas”, acreditando que Deus cuidará de TUDO e TODAS as coisas a partir do momento que o fiel se envolver com “os trabalhos da igreja”. Consideram como DEVER de Deus cuidar da empresa, dos negócios, do trabalho e assim por diante. É uma interpretação bastante conveniente do texto: “Eu trabalho para a igreja e Deus trabalha pra mim...”.

Acontecem com funcionários, absortos na segunda agenda orientada aos interesses da denominação, acabarem se esquecendo de sua carreira profissional. Param de ler, de instruir-se, e principalmente por força da fadiga não são mais vistos por seus empregadores como vestindo a camisa da empresa como antes o faziam. Quando vem a promoção... podem não ser promovidos.

Algo parecido acontece aos profissionais liberais e aos empresários, quando se envolvem de cabeça no trabalho da igreja. Ao deixar o negócio no qual são diretamente responsáveis nas mãos de parentes e funcionários, o resultado, via de regra, é sempre aquém do esperado.

Ainda há as apostas! Ciclicamente apostamos em empreitadas que nem sempre dão certo. Apostamos em uma nova veia comercial, apostamos em uma nova idéia, apostamos em novos relacionamentos e parcerias que poderiam alavancar novos negócios, enfim, apostas que nem sempre retornam como o esperado, por se tratarem de palpites e de intuição negocial.

De concreto é que quando o envolvimento voluntário do fiel com a denominação se intensifica e se perdura, e este é funcionário, ele não consegue a promoção e uma nova oportunidade pode levar mais de um ano; se este é profissional liberal não agrega valor hora a seu trabalho; e se este é empresário, ele não aumenta market share ne se dá por feliz com os balanços de final de ano.

Quando as coisas vão mal surge aquele sentimento de frustração associado à punição que Deus lhes estaria aplicando.
- Afinal por que não prospero se tenho sido fiel no dizimar, no ofertar e também tenho doado meu tempo à igreja?

Não são muitos os instrumentos para se medir os fiéis nas igrejas evangélicas, entretanto aqui estamos falando de uma perversa vara de medir que é pela aparente prosperidade financeira.

Se o membro aparece com bom carro e dá testemunho público regular daquilo que julga ser Deus fazendo em seu favor, ele está sendo muito amado e abençoado por Deus; por outro lado, o contrário é o perverso, ou seja quem não está prosperando não está sendo amado nem tão pouco abençoado por Deus.

- Por que o Deus quase implacável em suas exigências morais, sacrificais e em sua ira estaria estancando as bênçãos materiais/celestiais (paradoxo evangélico) que deveriam jorrar sobre os crentes que tem maior compromisso com “a igreja”?

Sem saber exatamente o que pensar, se o que fora feito não foi suficiente, ou se Deus não o está a abençoar por que não atingir o padrão de santidade ou de sacrifício exigido pela Divindade, abre-se a porta para maior misticismo.

O misticismo invade a alma de quem pouco conhece do Evangelho e muito sabe da sua religião.

Quando se abrem as janelas da alma para o místico e se tem enraizado o conceito de que “Deus quer que seu povo prospere”; a Teologia da Prosperidade que apregoa o sacrifício de grandes somas de dinheiro além dos dízimos e das ofertas alçadas como semeadura para colheita de medida recalcada sacudida e transbordante a trinta, setenta e a cem por um com facilidade faz mais uma vítima.

Do ponto de vista do Evangelho a Teologia Prosperidade é bizarra!

Ao se relacionar com essa divindade, na base de sacrifícios de tempo e de dinheiro da família oferecendo-se aos serviços voluntários das igrejas como oferta de semeadura para uma grande colheita, esse relacionamento certamente não é o com o Pai mas com Mamom.

Alguns fiéis ainda entendem que seu relacionamento com “a igreja” deve ser comparado com uma corretora de valores ou com um banco comercial. Muda-se de igreja quando não se prospera tanto quanto fora prometido, uma vez que se depositam dízimos e ofertas na expectativa de lucrar; se não se lucra então se procura outra denominação e outro atalaia.

Para estes o lastro não é o relacional com outros remidos pelo amor de Jesus, muito menos é o de congraçamento e de amor para com o próximo, mas somente uma relação de causa/efeito que tem origem na semeadura e deve ter o fim no enriquecimento rápido e contínuo do fiel.

O misticismo de balizar o amor recebido de Deus pela qualidade dos negócios é das linguagens culturais evangélicas a maquinação mais abominável.

Se o fiel troca de carro e leva vantagem ao negociar, ele se sente apoiado por Deus em tudo o que tem feito. É como se houvesse na cultura evangélica uma linguagem invisível da aprovação ou da reprovação de Deus manifesta nos negócios que praticam.

Este tipo de cultura se desdobra na cegueira a leitura do Evangelho e no conhecimento do amor do Pai.

O amor que o Pai manifestou a humanidade pela vida de Jesus consumou a necessidade de aceitação. Somos amados! Somos aceitos! Somos livres!

Tiago, irmão de Jesus, em sua carta escreve inequivocamente sobre as questões da vida secular. Piorar ou melhorar de vida devem ser questões tratadas pela Graça em igualdade. Independente do que nos aconteça estamos Nele. Estar Nele transcende a pequenez da idéia de que há julgamento do Pai nos momentos de marcha ré.

Se o gráfico da sua vida financeira aponta para cima ou para baixo, isto nada tem haver com o cuidado e o amor Dele em sua vida. Somos amados! Somos aceitos! Somos livres!

Há uma facilidade de nos tornarmos independentes, esta facilidade se revela de forma inconsciente quando tentamos nos achegar a Deus por nossos esforços.

Por força da cultura que valoriza o crente próspero o texto de Ap 3:17-20 assim se inicia:
Vocês dizem: “Somos ricos, estamos bem de vida e temos tudo o que precisamos”. Mas não sabem que são miseráveis, infelizes, pobres, nus e cegos.

Nos versos seguintes seguem-se com pontualidade as questões referentes ao estado de miserabilidade, infelicidade, pobreza, nudez e cegueira que a igreja institucionalizada de nossos dias atravessa.

O Reino de Deus nada tem haver com os valores estereotipados pela mídia.
É como correr atrás do vento!

Quando respondemos “Deus nos aprova, por isso temos prosperado”, estamos a responder da mesma forma que os devotos mornos no texto de João no livro de Apocalipse.

Nossas vestes de santidade evangélica não têm valor para Jesus, as Dele é que nos vestem, as nossas nos deixam nus.

E quando não vemos o que está sob nossos olhos entra o colírio que Ele tem.
Colírio este para perceber que Ele está à porta e bate. Se abrirmos esta porta de relacionamento com Jesus que nada necessita de nós, Ele se tornará tão próximo que nos será possível a deliciosa comunhão de uma refeição.

Há melhor notícia que essa?
Jesus se torna tão próximo que janta conosco quando abrimos mão de nossa independência e de nossos valores.

Viva este relacionamento com Jesus, meu irmão, e se despoje de seus esforços a fim de conquistar o seu amor, pois saiba que não há nada em ti que O faria amá-lo mais do que Ele já te ama. O que Ele fez consumou este amor no Pai.

Nele que é ternura, cuidado e amor na plenitude da vida e nos orienta a não andarmos ansiosos por nada nem valorizarmos o que aqui possuímos;

Théo Pimenta.

9 comentários:

  1. Deuteronômio 8:17e digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão me adquiriram estas riquezas.
    18 Antes te lembrarás do Senhor teu Deus, porque ele é o que te dá força para adquirires riquezas; a fim de confirmar o seu pacto, que jurou a teus pais, como hoje se vê.
    ╬►O ®_BomPastor_®◄╬ www.iceunet.org/webradio @obompastor_iceu

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  2. Caro Bom Pastor,
    Se você estudar o contexto do texto citado, verá que esse texto cabe bem para o povo hebreu, caminhantes no deserto pós êxodo, dentro da Antiga Aliança.
    Nada tem a ver com as formas descabidas que as igrejas atuais têm utilizado para reivindicar riquezas insondáveis ao povo evangélico.
    Este texto era para aquele momento e ainda, usufruiria destas riquezas aqueles que obedecessem toda a lei e não se esquecesse, em nenhum momento, do Senhor Deus. Veja o texto.
    Alias, se queremos usar este pedaço do texto que você usou, teremos que usá-lo na íntegra. Observe o verso 19 e 20:
    “19 Sucederá, porém, que, se de qualquer maneira te esqueceres de Senhor teu Deus, e se seguires após outros deuses, e os servires, e te encurvares perante eles, testifico hoje contra ti que certamente perecerás. 20 Como as nações que o Senhor vem destruindo diante de vós, assim vós perecereis, por não quererdes ouvir a voz do Senhor vosso Deus”
    Ou seja, se você não cumprir TODA A LEI, lá se foi a sua benção meu irmão. Pelo que temos visto, se assim fosse, ninguém teria benção alguma disponível.
    No entanto, damos graças a Deus que enviou Seu Filho para nos redimir de nossos pecados e nos reaproximar da comunhão com ELE, fazendo-nos entrar na Nova Aliança, que não requer sacrifícios.
    Entenda, meu caro, não é o meu ou o seu esforço em querer ser bonzinho e praticar boas obras que nos levarão a aceitação de DEUS.
    Ele nos aceita como somos, pecadores e impuros.
    Agora, uma coisa é aplicável neste texto que o ir. citou: a força que nos faz prosperar, sem sombra de dúvida, vem DELE. Ele é quem nos dá saúde e força para trabalhar.
    Portanto, toda a forma ardilosa que líderes atuais têm usado para engambelar o povo, prometendo riquezas, bênçãos materiais, poderes e o mais... tudo na base da troca com Deus, como se fosse um direito adquirido, deve sim ser combatida, pois não procede dELE, que é AMOR.
    nEle, que é a essência do AMOR,
    Theo Pimenta

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  3. Venho seguindo o blog e o tuiter de vcs já há algum tempo e tenho gostado muito do que publicam.Passei algum tempo da vida em igrejas que balizavam o relacionamento com Deus pela prosperidade. Numa determinada época estávamos eu e meu marido procurando casa pra comprar. Não aparecia de jeito nenhum!E ficávamos buscando onde estávamos errando, porque Deus não nos abençoava com a casa própria!!!
    Veja você a lição que tenho aprendido com Deus:estou há uns 2 meses sem ir a igreja (por diversos motivos alheios a própria igreja)e durante esse tempo achamos a casa ideal, financiamento aprovadíssimo pela CEF e faltam só detalhes burocráticos para pegarmos a chave.
    Ora, de acordo com essa teologia torta Deus NUNCA iria nos abençoar com nosso sonho se não estivéssemos indo a igreja, e mais, trabalhando na obra!
    Mas foi justamente nesse tempo que Ele nos abençoou!!!
    E aí, o que dizer?
    Olha que conheço um pessoalzinho aí que seria capaz de dizer que essa casa que estamos comprando não é de Deus, ou não será benção em nossa vida, rs.....
    Continue com o bom trabalho!

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  4. Olá meu irmão Theo, gostei de seu texto e ainda gostaria de reforçar a sua luta contra a teologia da prosperidade que facilmente cai por terra, pois além do texto de Matheus que vocÊ citou os da prosperidade ainda unem Tudo posso Naquele que me fortalece ai tiram textos de contextos e usam como pretexto de defesa da fraca e frágil teologia da prosperidade. Pois o texto de Matheus trata de acrescentar o fruto do espirito e e no texto de Paulo ele diz que tudo posso suportar, incrivelmente dois textos que são exatamente oposto a suposta teologia da prosperidade. E quando vamos diretamente no Evangelho ai piorou, no Evangelho encontramos um Jesus que nasceu em um estábulo, cresceu no meio de uma carpintaria, no começo de seu ministério passou fome e sede no deserto, andou a pé para todos os lugares, não tinha aonde reclinar a sua cabeça, foi preso, torturado, morreu no lugar mais humilhante, de forma vergonhosa e para finalizar foi enterrado em um túmulo emprestado!
    Aonde está a prosperidade??
    Ainda bem que vivo pela graça, pois a graça de Jesus me basta...

    Abração a vc Théo!

    Cléber Krauss

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  5. Certamente a teologia da prosperidade é de enojar! Mas gostaria de apenas botar uma reflexão que se vocês já estiveram cientes e seguros enquanto a ela por favor me perdoem. Mas vocês bem sabem que para seguir as verdades do evangelho, e também para seguir o ponto de vista que vocês apresentam nesse blog é preciso uma certa vivência com Deus, uma certa intimidade e dependencia dele, até porque se não tivesse essa vivencia, certamente não estariam nesse caminho até o dia de hoje. Mas gostaria de pedir que voces deixem bem claro, digamos assim "os requisitos minimos" para seguir o estilo de vida "desinstitucionalizado das idiossincracias e das pervesidades da religião", porque é muito fácil alguém ler o blog de voces e se revoltar contra a igreja com uma motivação errada e acabar se voltando contra Deus e contra o Evangelho, visto que a pessoa pode não ter conciencia de onde acaba Deus e começa a instituição igreja. Desculpe me qualquer coisa. Muito obrigado!

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  6. Oi Guilherme,
    Obrigado pelo comentário.
    Veja mano, nossa idéia não é difundir nosso ponto de vista ou fazer com que pessoas sejam como nós. De forma alguma.
    O Evangelho é muito mais simples do que todos imaginam. Vivê-lo é muito mais fácil do que seguir as regras da religião.
    Apenas estamos escrevendo artigos que diferenciam o evangelho da religião.
    Nossa proposta não é distanciar nem desmotivar ninguém de servir a Deus. Pelo contrário, gostaríamos de saber que estamos incentivando pessoas a se relacionar com Cristo e vivendo o evangelho na sua simplicidade, sem as complicações da religião.
    A vivência, a intimidade e dependência de Deus irá sim nos levar a viver o evangelho.
    FIque na paz e muito obrigado pelo comentário.
    Theo Pimenta

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  7. Humm... Entendi :D Obrigado por ter respondido meu comentário. Temos sim que buscar sempre viver de acordo com as verdades do evangelho que são muitos simples, porque Deus é simple :D Abraços!

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  8. Ola Theo,
    ja tenho acompanhado seu blog e , em minha casa, eu e meu marido, temos conversado ja ha muitos anos sobre este mesmo assunto do qual partilhamos em muitos aspectos. E temos sentido quao simples é o Evangelho no seu todo.
    Quando Jesus foi questionado pelos discipulos sobre como realizar as obras de Deus, a resposta fo tao simples, mas hj com toda a parafernalia dita crista, ja nao se acredita nem mesmo no que Jesus disse.
    "A obra de Deus é esta, que creiais naquele que por Ele foi enviado"
    E nisto conhecerão todos que sois meus discipulos, se tiverdes AMOR uns pelos outros.
    E quanto a fazerem caridades, nao saiba a sua mao esquerda o que faz a sua direita.
    Mas, algo me chama a atençao, e isto é o faot de que, eles eram respeitados e amados, pois nao havia entre eles necessitados.
    Como sera que seria hoje, se investissemos mais em favor de nossos irmaos, toa soemnte por causa de Cristo. Nosso Senhor.

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  9. Caro Théo, Muito bom seu texto. Conseguiu expressar a realidade de maneira sucinta, porém sem ser superficial.
    Ah, que figura esse bom Pastor, hein?rsrsrs

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